28.3.09

Conclusões

A II Convenção de Jornalistas – Guimarães 09 foi dominada pela discussão do impacto que as novas tecnologias da comunicação têm no jornalismo. Esta é uma realidade tida como incontornável, ainda que esta não seja uma área que gere consensos.

Durante os trabalhos foi apontada uma mudança em curso na comunicação social, particularmente ao nível da relação com os públicos e os espectadores e que é transversal à imprensa, à rádio e à TV.

Os públicos estão a mudar – ou já mudaram – e hoje não aceitam que um jornal online forneça um serviço onde não possam participar. As novas gerações, habituadas a seleccionar conteúdos e a utilizarem as tecnologias desde muito cedo, serão ainda mais exigentes, o que obrigará os meios a adoptarem estratégias de personalização dos conteúdos.

Os públicos deixaram de ser passivos, para exigir um papel activo. As fontes já não aguardam o contacto dos jornalistas, antes se assumem como repórteres. A questão para os jornalistas é pensar como aceitar, assumir e integrar a nova atitude das fontes.

Nos últimos anos assistiu-se a uma mudança de paradigma motivada pela tecnologia, capaz de, nos últimos anos, democratizar o acesso à informação, criando possibilidades de existência de novos conteúdos para além dos media tradicionais.

Por exemplo, o “boom” dos blogues deu origem a “novas vozes, novos mercados e novos públicos”. Mais recentemente, o Twitter veio reforçar a ideia de diálogo constante entre utilizadores. Por outro lado, o fenómeno das redes sociais na Internet é importante para difundir notícias na hora, passando os órgãos de comunicação social a ser o destino dos conteúdos.

Para o jornalista, é essencial assumir o papel de líder deste processo, integrando aquilo que se passa na Internet e aceitando o fim das fontes passivas. Mas este processo exige uma maior flexibilidade por parte dos jornalistas, obrigando-os a trabalhar e, sobretudo, a pensar para os vários suportes existentes.

Todavia, hoje existe ainda muita infoexclusão nas redacções. Paralelamente, os jornalistas não fazem formação por iniciativa própria, o que lhes coloca obstáculos acrescidos. Daí que os profissionais tenham que ter capacidade para alterar essa tendência, dispondo-se a receber formação noutras áreas que vão para além do jornalismo.

A mudança tecnológica, as exigências de uma maior qualidade de conteúdos e formatos e o défice de formação dos jornalistas abre espaço para o surgimento nas redacções de dois novos tipos de profissionais: gestores de conteúdos e engenheiros informáticos.

Ainda assim, contesta-se o mito do jornalista multimédia, que tem de saber e dominar todas as ferramentas. Nenhum jornalista tem de saber escrever, fotografar, captar vídeo, editar e dominar as ferramentas de programação.

Uma das inovações defendida foi a emergência da figura de um gestor de comunidades, que faça a gestão de conteúdos associados aos sites dos órgãos de informação, tais como blogues convidados, comentários dos leitores e espaços reservados ao cidadão repórter.

Esta inovação é, contudo, muito recente, o que faz com que andemos ainda à procura de uma linguagem online, que pode receber contributos das linguagens previamente existentes, como a imprensa, a rádio e a TV, podendo vir a situar-se algures entre a linguagem de rádio e a de agência.

Os jornais em papel tenderão também a acabar. Foi mesmo defendido que estes têm os dias contados e que vão tornar-se produtos de luxo, complementares às funções de breaking news dos sites.

Jornalismo local e regional

Neste âmbito, debateu-se, principalmente, a forma como os media regionais e locais sobrevivem face às dificuldades do presente. Apesar da evolução da profissão, nomeadamente em termos tecnológicos, o jornalismo deve continuar a existir no plano local e regional para informar sobre o que está próximo.

O jornalismo local desempenha um papel importante na sociedade, como a manutenção de traços de identidade das comunidades; audição de vozes que, normalmente, não são ouvidas, e espaço para participação cívica.

A internet coloca ao jornalismo local e regional novos desafios, o que obrigará a uma profissionalização dos membros do jornal e a necessidade de conquista da internet, respeitando as regras específicas deste meio.

Jornalismo Desportivo

A importância que o desporto tem no quotidiano dos portugueses faz deste sub-género especializado um dos mais relevantes na sociedade portuguesa. A importância do tema vê-se por exemplo pelo facto de Portugal ter três jornais desportivos diários, empregando uma grossa fatia dos profissionais da classe.

Apesar dessa situação, os jornalistas desportivos sentem que têm um tratamento diferenciado face aos restantes companheiros de profissão. Daí que, por exemplo, Fernando Eurico, defenda que “não existe jornalismo desportivo, apenas jornalismo, apesar das especializações”.

Grande Reportagem

O género nobre do jornalismo tem hoje um espaço francamente reduzido nos órgãos de comunicação nacionais. As narrativas do mundo sob o olhar português. Foi destacada a necessidade de os profissionais da área sacudirem o tom monocórdico do jornalismo.

Para o bom jornalismo vigorar é necessário sair à rua e sujar os sapatos. Falou-se na existência de um Portugal sentado e de jornalismo apressado e fechado na redacção. Há uma necessidade de humanização da classe: jornalistas precisam de qualidades que actualmente não se vêem muito, tais como o carácter, a humanidade, a responsabilidade social e a capacidade de se relacionar com os outros.

Fontes jornalísticas

Foi salientada a importância de manter boas relações com as fontes, ainda que precariedade da profissão faça aumentar as dificuldades para os profissionais. A internet veio também colocar desafios, nomeadamente com a profusão de fontes anónimas que povoam o meio cibernético.

As dificuldades as agências de comunicação e as assessorias de imprensa vieram colocar, limitando a liberdade jornalística. A nível local os constrangimentos colocados pelas fontes são ainda mais notórios, face à proximidade entre as fontes e os jornalistas.

Condições de trabalho

O tema foi introduzido pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas que apontou um cenário de falta de perspectivas de emprego, o desemprego crónico e o abandono precoce da profissão.

Portugal não consegue absorver os licenciados na área e os que são acolhidos nos órgãos de comunicação entram num círculo de precariedade. “Põe em causa valores como a solidariedade e camaradagem”.

Auto-emprego

Para combater as dificuldades encontradas, é possível criar um “círculo virtuoso”, se se apostar na imaginação e se alguns jornalistas lançarem os seus próprios projectos.  O ciberjornalismo pode ser uma alternativa nesse campo, como demonstram exemplos recentes.

1 comentário:

paulo dumas disse...

Além da presença cada vez mais intrínseca dos recursos tecnológicos na comunicação e nos media, da segunda Convenção de Jornalistas, organizada pelo Gabinete de Imprensa, ressaltou a ideia da urgência da transmissão da informação, aliada ao potencial das tecnologias disponíveis.

Por exemplo, o encontro foi transmitido quase ao segundo através de vários canais. A ubiquidade da world wide web permite que, em qualquer lado, se possa enviar para todo o mundo, num segundo, a notícia de um acontecimento, por mais imprevisto que fosse. Esta é hoje quase uma obsessão para os jornalistas que, naturalmente, não conseguem estar em todo o lado ao mesmo tempo, nem são tão pouco adivinhos.

Dos dois dias de trabalhos foram várias as questões de que fui tomando nota. A primeira prende-se com a indefinição crescente da capacidade de validar uma informação, à medida que qualquer cidadão, desde que tenha a tecnologia disponível, pode transmitir uma notícia (no sentido lato, uma nota sobre um acontecimento). Por muito que se tenha dito que a informação veiculada tem que ser “validada” pelo jornalista, não será por isso que a informação, mesmo que não validada, deixe de estar disponível, inclusivamente para os próprios jornalistas.

Uma segunda questão, derivada da primeira, diz respeito à quantidade e velocidade com que a informação é produzida, transmitida e retransmitida. Mais uma vez os meios tecnológicos tornaram quase único o fuso horário. Não há dia seguinte. Há o segundo seguinte. Do lado do receptor, do consumidor de notícias, haverá capacidade de absorver tanta informação em tão pouco tempo?

E esta questão, por sua vez, leva a uma outra que vai ao encontro de um movimento relativamente recente – o slow life, que defende que uma melhor qualidade de vida se consegue se nos adaptarmos à velocidade natural do universo e se nos restringirmos àquilo que realmente tem significado. Pergunta-se então: fará sentido falar-se em slow information?