28.3.09

Mesa redonda "O jornalismo e as novas tecnologias" debate desafios à profissão







O primeiro painel do segundo dia da II Convenção de Jornalistas ficou a cargo de Alexandre Gamela, Paulo Querido e Luís Miguel Loureiro. “Jornalismo e novas tecnologias” foi o mote para a mesa redonda, que contou novamente com reflexões sobre a profissão de jornalista e as mudanças que se impõem pelas novas tecnologias.

O jornalista deve assumir o controlo das novas tecnologias

Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP, começou por referir os mitos e a realidade acerca das novas tecnologias da informação e comunicação. Assumindo-se como uma “vítima das novas tecnologias”, o jornalista defendeu que tem de haver um “controlo das tecnologias” pelo profissional da comunicação. A tecnologia “ajuda a fazer jornalismo” mas o poder tem de estar na mão do jornalista, sustentou.

O também investigador da Universidade do Minho afirmou que “a tecnologia é de tal forma transformada num mito que se torna dominante”. Actualmente, “estar desligado do mundo é ser excluído”, disse Luís Miguel Loureiro, acrescentando: “A exclusão é um dos grandes problemas do jornalismo”. No entanto, o jornalista declarou que o online nem sempre isola, antes provoca “novas sociabilidades”.

Jornalismo “não é linha de montagens”

Alexandre Gamela, jornalista freelancer, começou por afirmar que há uma “mudança de paradigma trazido pela tecnologia” que, nos últimos anos, democratizou o acesso à tecnologia e criou possibilidades de existência de novos conteúdos para além dos media tradicionais. O boom dos blogues deu origem a “novas vozes, novos mercados e novos públicos”. Gamela deu o exemplo do Twitter para reforçar a ideia de “diálogo constante” entre utilizadores, afirmando que esta é uma ferramenta de “cristalização da comunicação relacional”.

O fenómeno das redes sociais na Internet é, segundo Alexandre Gamela, importante para difundir notícias na hora, passando os órgãos de comunicação social a ser o destino dos conteúdos. O freelancer terminou dizendo que o jornalismo “não é uma linha de montagens”, pois lida com pessoas, causas e consequências. “É preciso ter consciência de que há um lado humano” nas histórias jornalísticas, defendeu.

Jornalista multimédia é um "mito"

Paulo Querido, também freelancer, desafiou a plateia a definir o que é ser jornalista e respondeu: “É aquilo que cada um quer”. Ser jornalista é “provocar, dar notícias, mas também manipular a opinião pública”. O colaborador do Expresso considerou que, actualmente, se vive no mito do jornalista multimédia, que tem de saber e dominar todas as ferramentas. Para Querido“há jornalistas que não sabem escrever, mas contam uma narrativa através de uma sucessão de imagens”. O profissional de jornalismo não tem de ser multimédia, tem de aproveitar as possibilidades dadas pelas novas tecnologias e tentar adaptar-se, “dominando as ferramentas da própria Internet”.

Texto de Rita Araújo

Fotos de Carlos Rui Abreu

Continue a acompanhar a II Convenção no blogue do GI e no twitter.

Cobertura jornalística com o apoio do Grupo de Alunos de Comunicação Social da Universidade do Minho (GACSUM).

3 comentários:

Luís Miguel Loureiro disse...

Só uma achega aqui da "vítima". Quando referi esse facto fi-lo no contexto muito específico de se ter estabelecido como critério (tão bom como qualquer outro) para a ordem das intervenções iniciais na sessão, o facto de ter preparado um simples e inofensivo "power point" como auxiliar e os meus confrades o não terem feito. Só nesse sentido, da mera circunstância, me considerei "vítima" da tecnologia. Digamos que terá sido uma graçola, eventualmente dada a uma generalização com a qual me não revejo minimamente. Na realidade, esse facto, serviu de exemplo para me lançar na ideia que defendi de que o Jornalismo, quando se envolve na conversa sobre as tecnologias e o imperativo do seu uso, deve ter a noção crítica da moderna mitologia que o seu próprio discurso ajuda a construir sobre as tecnologias (alimentada e apoiada, como disse, em mitos como os de "revolução", "inovação" e "emancipação", que todos e cada um se constituem como belos valores-notícia), e que, por isso, o Jornalista deve ter sempre a noção das tecnologias como ferramentas para conhecer o mundo e não tomá-las pelo mundo que tem para conhecer. Luís M. Loureiro

Samuel Silva disse...

A "vítima" tem razão. O termo foi usado com ironia. Talvez esta tenha escapado a quem escreveu a peça.

As nossas desculpas, Luís.

Luís Miguel Loureiro disse...

Ora essa, Samuel, não é preciso pedir desculpas de nada. O facto de ter esclarecido o episódio só pretende isso mesmo. Se a excelsa repórter quiser aproveitar a circunstância para reflectir um pouco a construção da notícia e a sua relação com o conjunto de factos que lhe deram origem, já terá valido a pena enviar o comentário. ;)