28.3.09

Grupo de Trabalho sobre a relação do jornalista com as fontes de Comunicação


A relação do jornalista com as fontes de Comunicação

Vamos partir de um exemplo para lançar algumas pistas para discussão, reflexão e análise. São as experiências pessoais de cada um que moldam as visões e percepções de uma profissão. No jornalismo isto é mais evidente, até porque, muitas vezes, uma vertente teórica não é, definitivamente, acompanhada pela prática. E cada prática é individual e única.

O jornalista precisa de uma informação sobre uma obra pública, por exemplo um hospital. Liga para a empresa de comunicação que está a fazer a assessoria ao grupo que ganhou a construção da unidade hospital. Cerca de um quarto de hora depois, são respondidas as perguntas. A conversa termina com uma “recomendação”: “se usar alguma desta informação, cite a Direcção-Geral de Saúde”.

Este exemplo, verdadeiro, coloca algumas coisas: deve-se usar ou não esta informação? Cumpre-se o recomendado? Há alguma gravidade neste tipo de comportamento? Se sim, que tipo de postura manter’ Se não, onde fica o limite? E a pressão das chefias, devem ser correspondidas, mesmo preferindo uma informação menos a nenhuma informação?

Dizem os livros que a boa informação identifica sempre a sua origem. Informação sem autor é má informação ou, pelos menos, garantias de ser informação de qualidade. Se a responsabilidade da informação é de uma entidade conhecida e credenciada, então, provavelmente, é informação credível. Ora quando é a própria entidade a alterar as regras de jogo, que postura deve ser mantida pelo jornalista?

As fontes de informação são um dos assuntos que mais teorias e literatura têm provocado junto da sociedade académica. Quase que me atrevo a dizer, que nesta matéria, cada cabeça cada sentença. O académico jamaicano Stuart Hall é especialista em estudos culturais e no seu livro “O Primeiro Definidor” desenvolve uma teoria interessante, conhecida como a teoria da definição ou conspiratória: é a fonte que define o que é noticia.

Isto é, os órgãos de comunicação social tendem a reproduzir a estrutura existente no poder, na ordem institucional da sociedade pois dão preferência aos chamados definidores primários, vulgo porta-vozes. Hall define quatro tipos de autoridade: fonte institucional, de poder ou de autoridade, de politica e sofisticada ou especializada. O autor mostra-se preocupado com esta realidade propondo mais jornalismo de investigação.

Na mesma linha convoque-se para esta reflexão, o livro “A Organização da Fonte em Situações de Rotina de Crise” de Stephen Hess, onde são analisados os gabinetes de imprensa. Para Hess, a crítica que os assessores manipulam as notícias é incorrecta, pois a maior parte dos recursos vai para a recolha e pesquisa de informação ou para a satisfação dos jornalistas.

Um dos requisitos mais importantes é saber gerir e dar respostas aos pedidos de informação, relembrando que parte do tempo é dedicado à estratégia, como se vai agir, como se vai passar a mensagem. Se conseguir comunicar com o seu público sem intermédio dos media consegue mais objectividade, porque os meios de comunicação nunca dizem o que o assessor disse, a estratégia não passa necessariamente pelos media.

O princípio da assessoria é responder a todos, mas como gestão de tempo devemos responder primeiro aos mais importantes e assim sucessivamente. Os gabinetes de imprensa criam a informação ordenada que é diferente de informação controlada, mais uma vez por causa da gestão do tempo e de “espaço” nos media.

Deve-se controlar, gerir a informação para conseguir os objectivos da mensagem que se quer passar. Ex. os passos para a apresentação de uma obra ou edifico: ideia – concurso de ideias – apresentação do projecto – lançamento da primeira pedra – concurso da empreitada – início da obra – visitas à obra – inauguração

Quis levar esta reflexão para este lado das fontes oficiais e das assessorias porque acho esta “a” discussão central. Aliás, o exemplo apresentado é paradigmático da ultrapassagem de limites e competências que, mais tarde ou mais cedo, vão dominar os órgãos de comunicação social. Importa, por isso, lançar a pergunta: que pode o jornalista fazer para voltar a balizar a área de navegação das fontes? Não se deverá o jornalista ter a “liberdade” de perceber, decidir e utilizar da forma que achar mais pertinente a informação que lhe é vinculada pelas fontes de informação?

Pedro Antunes Pereira

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